Dizem que ‘saudade’ é uma palavra que só há na língua portuguesa, mas é um sentimento universal, entretanto, a forma que sentimos ou até dizemos pode ser complexa, visto que cada um é cada um e há muitas variáveis que podem transformar uma palavra ou um sentimento em vários significados...
Outro dia encontrei uma amiga que há muito tempo não nos víamos, a primeira frase que ela me falou foi ‘ah, estou com saudades de você’, por um momento eu me deparei que não tinha esse sentimento, não por esta pessoa, mas acho que no geral, tentei não mostrar ‘indiferença’, mas quando retornei para casa, fiz uma auto-análise sobre o tema.
Enquanto refletia, busquei nas minhas memórias os possíveis momentos em que senti saudade por algo ou alguém, até este momento não consegui determinar se eu realmente já senti saudades, curioso porque não é a falta de compreensão sobre o sentimento ou não saber o significado da palavra, mas a sensação real do que é sentir saudades de alguém ou de algo.
Como já mencionei várias vezes, na minha infância e adolescência, nós mudávamos de casa e cidade de dois em dois anos, o que pude analisar sobre o tema saudade é que não tive tempo para ter este sentimento.
Imagina o seguinte: eu acabava de me mudar para uma cidade diferente, logo, entrei para uma nova escola, um novo bairro, um novo endereço, a ação a seguir é ter que me adaptar a tudo novo logo, novos amigos, novos professores, novas circunstâncias e como já tinha certeza que iríamos nos mudar, era como se meu cérebro já estivesse condicionado à urgência da situação e o começar de novo deveria ser rápido.
Nunca foi fácil, por muitas vezes era angustiante, não pelo fato de ter que fazer novas amizades ou entrar para um novo grupo, sobre isto eu sempre fui muito rápida em me adaptar ao novo, fazer novas amizades e me inserir ao novo ambiente. A parte angustiante era não ter o poder de escolha ou referência quanto ao que viria a seguir.
Enquanto era criança, bastava seguir o fluxo, mas quando era adolescente, já apresentava maior dificuldade em acompanhar a escola, escolher um rumo do qual eu gostava, formar uma opinião sobre meu futuro, ter um sentimento seguro de pertencimento.
Pois bem, com tantas mudanças no decorrer da minha vida, a única coisa que pude ter certeza era que, quando eu tivesse meus filhos, eu daria a estabilidade emocional de pertencimento, ou seja, poderem ter amigos de infância, porque eu nunca tive amigos de infância, terem um lugar certo onde pudessem criar lembranças da infância e adolescência, lembrarem daqueles professores e daquela escola onde fizeram parte por tantos anos.
Sobre o tema saudade, conclui que, não aprendi a sentir, não dava tempo para sentir saudade de nada nem ninguém. Numa situação padrão, normalmente quem fica é quem mais ‘sofre’ com a falta e a ausência, quem foi embora precisa se readaptar ao novo, recomeçar novamente, então, não tive tempo para sentir saudades, porque sempre eu que ia embora, com agravante de que sou uma pessoa muito racional, o que faz com que pareça cruel dizer, não sou quase nada emocional, a dose de emoção que carrego duram apenas 10 minutos.
Não sei o que as pessoas sentiram quando fui embora, com algumas por algum tempo nos correspondíamos por carta, lembram que escrevíamos cartas e enviávamos pelos Correios?
Por isso minhas lembranças são bem confusas, muitas vezes quando me lembro das pessoas, sim, ocasionalmente eu me lembro dos lugares e pessoas que estiveram na minha vida, como postei anteriormente, Elenco da Minha Vida, mas confundo nomes, rostos, épocas e lugares.
Hoje já adulta, consegui manter minhas filhas na mesma escola e na mesma casa por muitos anos, elas tiveram amigos de infância, professores que acompanharam seu desenvolvimento, um lugar delas, o sentimento de pertencimento.
Não tenho traumas por todas essas mudanças, confesso que fiquei com raiva muitas vezes, fui rebelde com minha mãe, que era a culpada sim, por toda essa baderna na nossa vida, não sei meus irmãos, mas eu tirei de letra todas essas mudanças, não fui boa aluna, mas aproveitei bastante o que eu vivia com meus amigos, pontuando que a minha rebeldia não era ‘marginal’.
Sei que a vida que tive enquanto filha foi muito boa, meu pai nos proporcionou amor, qualidade de vida e mordomias, minha mãe foi o complicador, mas talvez seja um tema para outra postagem.
Enfim, pode parecer rude e até pretensioso da minha parte, mas não é não, sou como todo mundo, talvez com algumas qualidades e defeitos a mais ou a menos que muito outros, só não sou emocional e não acho que não sentir saudades seja um defeito, a importância que damos a determinadas coisas, pessoas e lugares não dependem do sentimento de falta, o saber apreciar e valorizar os momentos juntos e as coisas que temos é mais importante, não de forma apegada, com domínio e posse, mas com prazer e respeito, um dia todos iremos partir...
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